quarta-feira, 21 de março de 2018

Só para dizer...

Desde ontem penso em ti. Ou desde um dia antes. Desde que eu soube da possibilidade de ir naquele lugar, pensei em ti. Eu sabia que a chance de tu estar lá era mínima, mas meus olhos ficaram atentos a qualquer possibilidade.

Meu pensamento se dividiu, quase como razão e emoção. Ora eu pensava "puta merda, não me livro desse sentimento!". Ora eu me pegava sorrindo só de imaginar tu ali, na minha frente. Eu não te vi, o que me deixou aliviada. Depois, consegui compreender um pouco o que eu sentia: era uma lembrança boa, um pouco mais serena e madura do que qualquer outra vez em que tu habitou minha mente.

Não vou dizer que a saudade não bateu: eu senti tua falta. Se eu tivesse uma carta coringa para gente ficar junto, como antigamente, só por uma noite, eu certamente teria usado. Nossa! Como eu te queria aqui perto. Queria te contar tudo que eu vi, e tu ia fazer os teus comentários inteligentes e dar risada no final. Nos divertiríamos com a nossa conversa, com aquele assunto de sempre.

Teve um momento, de tudo que eu passei nesse dia, que fez tu estar presente que eu fotografei a cena na minha cabeça. Respirei fundo e sorri. Entendi que a saudade apertada dividia espaço com uma paz. Fiquei feliz e grata por ter compartilhado um pouco da minha vida contigo no passado. Mas ontem e hoje, queria só tu do meu lado. Sim, eu tenho vivido a vida e finalmente consegui abrir espaço para outras pessoas. Mas ontem eu só queria a tua presença, e a de ninguém mais.

Na minha imaginação, eu te contei tudo que eu queria que tu soubesse, como mais um dia daqueles de quando ficávamos juntos. Agora tô aqui, matutando se falo contigo ou deixo passar e deixo essa lembrança bonita só para mim.

Deixo passar. Até quando, não sei.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018


Santa Maria, 28 de agosto de 2017

Oi!

A gente ficou um tempo sem se falar né? Te dizer um simples oi já me provoca náusea, tontura, febre, coceira e tudo mais Meu corpo entra em colapso. Isso que nem tô na tua frente, olhando pros teus olhos tão intensos. Aqueles olhos que - quando eu abria a porta de casa - me devoravam. Como eu sinto falta disso!

Gostaria de te falar tanta coisa. A primeira delas é que queria ter dito essas coisas muito antes, mas nunca tive coragem. Queria dizer que quando a gente começou a ficar eu gostava da situação, mas achava que era só mais um carinha na minha vida de solteira. Depois, gostei do lance de a gente ficar escondido. Era o máximo enganar todo mundo e deixar pra trocar uns beijos no meio da rua. E lógico, que era coisa de química também (acho que nem preciso falar disso né?!).

Mas eu achava que a nossa relação acabava aí: conversa boa, companhia boa, sem cobrança. Para quê conversar sobre relacionamento se estava bom daquele jeito? Não fazia o menor sentido eu te cobrar qualquer coisa, nem uma explicação, se tava tudo indo bem e se tu estava por perto sempre que eu queria.

Daí começou uma vontade de não desgrudar mais e tu foi para Porto Alegre. Eu não sei como, mas consegui segurar o choro até um átimo de segundo depois que tu saiu da minha casa, da tua última noite morando em Santa Maria. A porta fechou e eu chorei. Na época achei que a vontade de chorar era porque eu sentiria saudade (e porque sou muito chorona). E aí era como se eu finalmente aceitasse o óbvio. Eu gostava de ti. Eu estava envolvida e não seria fácil parar de pensar em ti. Talvez tenha chorado porque de alguma forma tomei consciência que ali terminava o que a gente tinha, uma relação louca que até hoje não sei exatamente como definir.

Me senti forte e decidida a terminar com tudo aquilo, seguir em frente. Diálogo sobre "nós" nunca foi o ponto forte dessa relação engraçada. Então para quê conversar? Por que eu terminaria algo que eu nem sabia o que era? Sumi. Não sei se tu percebeu, mas eu decidi não te ver mais. A promessa durou um tempo, mas logo eu estava abrindo a porta, de novo, toda ansiosa. E tu estava lá, com teus olhos verdes e intensos.

A verdade é que desde que a gente começou a ficar eu gosto de ti, embora não tenha percebido isso desde o começo. A verdade é que eu sempre soube que tu tinha a tua vida traçada eu estava fora dela. Mas era tão fácil esquecer isso quando a gente tava perto. Eu queria acreditar que tu gostava de mim e isso era o que importava. E quando eu, raramente, lembrava que não fazia parte da tua vida,  doía. Doía saber que eu era qualquer aventura, doía saber que eu não cheguei a ser nem uma opção. Doía pensar o que eu poderia ouvir de ti se algum dia questionasse qualquer coisa.

E eu sou assim, afasto as pessoas. Não sei explicar para elas o que acontece, apenas afasto como se fosse a solução mais adequada. Me afastei de ti, me afastei de coisas que eu senti. Como se fosse possível ignorar o tempo inteiro. Mas a verdade é que pensei muito em ti,até o dia de hoje. Que desejei, sabe lá quantas vezes, ler uma mensagem tua dizendo "tô indo em 10 minutos", como era antes. Fantasiei tu me procurando e dizendo que morreu de saudade. Que a gente voltaria a ter um tempo a sós. Que boba eu fui. Sofri mais.

Eu não consegui ser tão sucinta como queria ter sido e cada palavra escrita aqui doeu um pouquinho. Queria escrever para dizer que gosto de ti, mas estou disposta a seguir te deixar no passado. E que precisava te dizer, tudo que eu não disse um tempo atrás, para poder seguir em frente.

Quero que seja feliz e não guarde mágoas de mim. Talvez eu tenha sido imatura, egoísta, iludida, boba. Não sei exatamente. Mas o porquê tá aí.

Fico me perguntando que receita eu seguia, qual mantra me guiava ou qual era a minha filosofia de vida de alguns anos atrás. Tem alguma coisa, que já foi parte de mim, que eu perdi e não sei quando foi. Será que foi o juízo? Ou o amor próprio? Será que eu tinha uma régua mental que mede o absurdo de cada situação?

Será que foi no Macondo, quando a gente fez uma competição de quem bebia mais e ficou louco a noite inteira? Ou naquele carnaval que a gente fez tudo o que tem direito? Ou será que essa coisa se perdeu nas noites sem dormir colocando o TCC em dia? Ou na lista infinita de tarefas que a gente sempre esquece de alguma coisa?

Antes eu era diferente. Tinha coisas que me faziam sofrer, mas eu conseguia superar. Era como se com o tempo a realidade tomasse conta da ilusão. Como se o encanto tivesse prazo para terminar. Às vezes a gente até se deixava machucar com o que esperava de alguém. Mas logo passava.

Aí começou uma longa história, muito difícil de explicar. Quando ele apareceu, achei que não ia chegar nem nesse ponto do "vai passar". Na verdade, nem sei o que passou pela minha cabeça quando deixei ele me beijar da primeira vez.  Se a minha vida fosse uma série, nesse momento teria uma trilha sonora de suspense ou letreiro escrito "continua" no final do episódio. Os espectadores, de cara, saberiam: "iiih, vai longe".

"Nunca mais", decidi. Tomei distância. Literalmente. Não deixei ele chegar perto de mim. Eu via ele de um lado, corria para outro. E assim foi durante alguns dias, um mês ou dois.

E a cena que merecia um letreiro se repetiu nos capítulos seguintes. Pelo visto, os fãs imploraram por mais: durou muitas temporadas. Ia e voltava, igual a novela das 8, quando tá quase tudo desvendado: o heroi casou com a mocinha, o vilão tá preso, eo filho descobriu quem era seu pai biológico. Mas tem um mês pra acabar o folhetim daí começa a enrolação.

Só que o último episódio não chega. Não para mim. Talvez o roteirista tenha esquecido de me passar o texto do grand finale. Parece que todos terminaram a história e hoje aparecem em outras produções, em outras emissoras. Menos eu.

Vem cá, hein?! Como será que eu fazia pra dar conta disso antes? Como eu tirei de letra tantas vezes e estou enlouquecendo nessa?

Fico amaldiçoando aquela noite, aquele olhar que me devorou, aquele beijo, aquela saída, aquele amigo que me fez sair, aquele casaco azul que eu estava vestindo,  aquele dia que ele me deu oi pela primeira vez, a primeira vez que eu troquei uma mensagem com ele, qualquer coisa que desencadeou todo esse drama mexicano.

O lado bom do meu currículo é que sei atuar bem. Que tá tudo bem, que nunca doeu e se bobear faço até aquela cara de 'faça o favor!''. Mas só por fora. Por dentro tá uma bagunça: filme do Tarantino ia parecer água com açúcar perto disso aqui.

***

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Enfim, doeu


Era uma história de amor bastante complicada. Ninguém acompanhara de perto, e nem de longe. Apenas algumas amigas sabiam, sobre a existência dele. Talvez não fosse uma história de amor, apenas uma história de pele. Ou, seria diferente: um caso de puro companheirismo. Mas em todos os casos, houve um envolvimento difícil de explicar.

Além do segredo, lidavam com outros problemas. Mas a vontade de ficar junto, sem questionar ou pensar em coisas difíceis era jogada descarta. "Para quê?" - pensava ela. De que adiantava discutir, se a provável resposta lhe causava arrepios? Melhor mesmo era aproveitar cada segundo de cada momento.

"Prometo que caio fora quando estiver me apaixonando", jurava a si mesmo. Bobagem. Quando viu, era tarde para isso. Mesmo assim reuniu forças, criou coragem e... sumiu. Já que diálogo nunca fora ponto forte da relação, para quê conversar?

Na época, julgou mais fácil e objetivo, decidiu, sumiu. Ele nunca mais ouviria falar sobre ela e não seria necessário pressioná-lo a tomar uma decisão. Mas, como Murphy bem sabe, os planos deram errado e o sumiço durou pouco: semanas ou, no máximo, meses. Mas parecia que anos tinham se passado.

E tudo voltou a ser como antes, o companheirismo, a química, a vontade de não desgrudar nunca mais e o silêncio sobre a relação. A história se prolongou, mas o fim era inevitável.

E novamente sumiu, dessa vez para sempre.

***
E dói. Minha nossa, como dói! Achou que com o tempo a saudade iria diminuir e pouco a pouco seria fácil esquecer. Outro plano falho! As lembranças parecem , mais nítidas e cada lembrança, por mais singela, dói. Dói de uma forma que não tem como explicar. Se fosse um filme, ele seria uma "assombração". Neste momento por exemplo, o espectro estaria frente a ela, dizendo o quanto sente muito e não queria vê-la sofrer. E que ficariam juntos... mas é só um fantasma, de um filme que não existe, de uma história real e mal resolvida.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

E agora, Gabriela?

E diante aquelas 40, 50 pessoas, eu tinha que levantar e em segundos responder a pergunta. Não tinha muito tempo pra pensar, nem elaborar. Eu tinha certeza que estava no lugar certo, na hora certa. Não tinha tempo pra arrependimentos. Mas que diabo eu ia responder???

-Gabriela, explique o motivo de escolher cursar jornalismo -dizia aquele meu novo professor, diante meus novos colegas.
- Eu não tenho certeza, mas acho que fiz a escolha certa... - respondi tímida pra caramba, e se tem coisa que eu não sou é tímida...
-Huuuum, vejamos, você quer tralhar em televisão, é isso?
-hmm, nããão!
-Você gosta de rádio, quer ser uma radiojornalista?
-hmmm, nãããooo...
(aquelas insinuações me causavam repulsa, isso que ninguém perguntou se eu desejava ser assessora de impresa!)
Todo mundo deve ter pensado pq diabos aquela guria decidiu fazer jornalismo!

(...)

E quatro anos se passaram, e a vida acadêmica sem dúvida, foi a melhor época. E sem dúvida, ela tava no curso certo. Apaixonou-se por fotografia, viu que rádio é uma cachaça e foi trabalhar na televisão, vejam só, estagiou como assessora de imprensa. E tudo era apaixonante. Adorava responder quando lhe perguntavam... estufava o peito e se exibia "Faço jornalismo!". A sensação era incrível. Alguns momentos, por alguns segundos, batia o arrependimento: quando passava noites embaladas por café, quando todos entrevistados pareciam combinar um boicote, quando personalidades públicas a deixavam esperando sentada por horas e não apareciam. Tudo virava história, que ela se orgulhava de viver, de contar, de compartilhar.
Diante outras tantas pessoas, e ninguém sabe quantas, ela tem poucos momentos pra responder, e segundos pra pensar na resposta.

-E agora, que tu se forma, vai fazer o que?


domingo, 5 de junho de 2011

Malditas satisfações!

1. Morei a maior parte da minha vida numa cidade do interior. Numa cidade do interior onde existe muitas e muitas pessoas conservadoras: em todos os sentidos.¹ Felizmente meus pais, que escolheram morar nessa cidade do interior com pessoas conservadoras, eram bem diferentes. Eles se diziam de esquerda. Eles são mais de esquerda do que talvez, imaginem. Logo, herdei várias ideologias políticas deles. E outras também: meu caráter, meu comportamento e o meu jeito, são fruto do que eles me ensinaram. Cresci ouvindo The Fevers no toca discos e dançando como louca com a minha mãe. Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethania, Caetano Veloso, Milton Nascimento. Cresci aprendendo a respeitar e acima de tudo amar minha família. Tive os natais mais felizes que pude ter, e as férias de verão eram sempre inesquecíveis. Aprendi a dar valor pra todas oportunidades que surgiam e a impor minha presença quando fosse necessário. Aprendi que a educação é uma coisa que não se mede esforços ou dinheiro (meus pais que o digam!). Eu poderia escrever um livro com tudo que aprendi com eles.



2. Com 17 anos saí de casa. Cidade do interior nova, casa nova, colegas novos. Aí a gente aprende tanta coisa sozinho. Que manter uma casa é humanamente impossível (no meu caso), que cozinhar é um ritual muito complexo e que nuggets ou molho de tomate pronto são as melhores invenções do mundo. Aprende que ninguém se importa em te tirar da cama de manhã cedo pra ir pra aula ou insistir pra tu estudar. Tu aprende a ser adulto. E ser adulto é muito difícil. A gente tem que ir no super, limpar a casa, chamar o encanador, engolir o choro e conviver com a saudade. Encarar a faculdade e principalmente: que os amigos sempre te ajudam a segurar as pontas. Pelo menos no meu caso, se não fosse meus amigos, eu teria enlouquecido.



3. E voltando para todo o blá blá blá das ideologias que eu herdei dos meus pais, eu sou assim. Aprendi que liberdade é essencial para tudo. E tenho sorte de sempre ter toda liberdade do mundo para ser quem eu quiser. Para ser eu mesma. Pra escolher o meu futuro e pra experimentar tudo o que eu tive curiosidade. Pra me algumas vezes me arrepender e outras pra me orgulhar dessa porralouquice que marcou a minha era universitária. Pra ser sincera sempre! É claro, que eu sempre soube que deveria respeitar aqueles que pensam diferente de mim, e muitos deles são meus amigos. Cansei de ouvir coisas e descordar até o dedão do pé, mas sempre respeitando as opiniões. E por isso eu gosto que respeitem as minhas. Por isso gosto de compartilhar minhas histórias com meus amigos, contar sobre a a minha vida. Vez em quando escrevo coisas no final dos cadernos e sei que ninguém vai ler. E não é pra ler mesmo! Outras vezes gosto de ler coisas que parecem que foram escritas pra mim, naquele exato momento. Gosto de ouvir os conselhos que as pessoas tem, e gosto muito de ouvir suas histórias também. E gosto de desabafar, e como boa pisciana que sou, de vez em quando sacudir o mundo gritando meus anseios. E gosto quando sou respeitada por isso. Se alguém me compreender, melhor ainda :) E gosto dessa minha eterna liberdade, de fazer, de ler, de escrever e de ser o que eu quero. Quando quero. Pra ninguém me reprimir.

Boa semana pra mim, e pra alguma alma que resolver ler esse imenso desabafo. Termino o post com um pedaço de uma música do Raul que eu gosto muito, e que cabe muito bem neste momento: "Todo homem tem direito de pensar o que quiser, todo homem tem direito de amar a quem quiser, todo homem tem direito de viver como quiser, todo homem tem direito de morrer quando quiser."

terça-feira, 17 de maio de 2011

Conjuga-me

Meus pensamentos andam longe, mas alguns momentos estão tão vagos. É uma sensação de vazio tão tranquila. E por enquanto, tá bom assim. Mas esse texto do Caio F, que acabo de ler, tem tudo a ver com o passado e tem tudo a ver com o que eu tou pensando nesse presente. Talvez tenha a ver com o futuro também.



Então, não perca seu tempo comigo. Eu não sou um corpo que você achou na noite. Eu não sou uma boca que precisa ser beijada por outra qualquer. Eu não preciso do seu dinheiro. Muito menos do seu carro. Mas, talvez, eu precise dos seus braços fortes. Das suas mãos quentes. Do seu colo pra eu me deitar. Do seu conselho quando meu lado menina não souber o que fazer do meu futuro. Eu não vou te pedir nada. Não vou te cobrar aquilo que você não pode me dar. Mas uma coisa, eu exijo. Quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Às vezes, mais alma. Às vezes, mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade. Não me venha com falsas promessas. Eu não me iludo com presentes caros. Não, eu não estou à venda. Eu não quero saber onde você mora. Desde que você saiba o caminho da minha casa. Eu não quero saber quanto você ganha. Quero saber se ganha o dia quando está comigo."



Caio Fernando Abreu

Boa semana pra mim, pra todos! Já que esse feriado em Santa Maria tá com cara de domingo...