terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Fico me perguntando que receita eu seguia, qual mantra me guiava ou qual era a minha filosofia de vida de alguns anos atrás. Tem alguma coisa, que já foi parte de mim, que eu perdi e não sei quando foi. Será que foi o juízo? Ou o amor próprio? Será que eu tinha uma régua mental que mede o absurdo de cada situação?

Será que foi no Macondo, quando a gente fez uma competição de quem bebia mais e ficou louco a noite inteira? Ou naquele carnaval que a gente fez tudo o que tem direito? Ou será que essa coisa se perdeu nas noites sem dormir colocando o TCC em dia? Ou na lista infinita de tarefas que a gente sempre esquece de alguma coisa?

Antes eu era diferente. Tinha coisas que me faziam sofrer, mas eu conseguia superar. Era como se com o tempo a realidade tomasse conta da ilusão. Como se o encanto tivesse prazo para terminar. Às vezes a gente até se deixava machucar com o que esperava de alguém. Mas logo passava.

Aí começou uma longa história, muito difícil de explicar. Quando ele apareceu, achei que não ia chegar nem nesse ponto do "vai passar". Na verdade, nem sei o que passou pela minha cabeça quando deixei ele me beijar da primeira vez.  Se a minha vida fosse uma série, nesse momento teria uma trilha sonora de suspense ou letreiro escrito "continua" no final do episódio. Os espectadores, de cara, saberiam: "iiih, vai longe".

"Nunca mais", decidi. Tomei distância. Literalmente. Não deixei ele chegar perto de mim. Eu via ele de um lado, corria para outro. E assim foi durante alguns dias, um mês ou dois.

E a cena que merecia um letreiro se repetiu nos capítulos seguintes. Pelo visto, os fãs imploraram por mais: durou muitas temporadas. Ia e voltava, igual a novela das 8, quando tá quase tudo desvendado: o heroi casou com a mocinha, o vilão tá preso, eo filho descobriu quem era seu pai biológico. Mas tem um mês pra acabar o folhetim daí começa a enrolação.

Só que o último episódio não chega. Não para mim. Talvez o roteirista tenha esquecido de me passar o texto do grand finale. Parece que todos terminaram a história e hoje aparecem em outras produções, em outras emissoras. Menos eu.

Vem cá, hein?! Como será que eu fazia pra dar conta disso antes? Como eu tirei de letra tantas vezes e estou enlouquecendo nessa?

Fico amaldiçoando aquela noite, aquele olhar que me devorou, aquele beijo, aquela saída, aquele amigo que me fez sair, aquele casaco azul que eu estava vestindo,  aquele dia que ele me deu oi pela primeira vez, a primeira vez que eu troquei uma mensagem com ele, qualquer coisa que desencadeou todo esse drama mexicano.

O lado bom do meu currículo é que sei atuar bem. Que tá tudo bem, que nunca doeu e se bobear faço até aquela cara de 'faça o favor!''. Mas só por fora. Por dentro tá uma bagunça: filme do Tarantino ia parecer água com açúcar perto disso aqui.

***

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

Nenhum comentário:

Postar um comentário