1. Morei a maior parte da minha vida numa cidade do interior. Numa cidade do interior onde existe muitas e muitas pessoas conservadoras: em todos os sentidos.¹ Felizmente meus pais, que escolheram morar nessa cidade do interior com pessoas conservadoras, eram bem diferentes. Eles se diziam de esquerda. Eles são mais de esquerda do que talvez, imaginem. Logo, herdei várias ideologias políticas deles. E outras também: meu caráter, meu comportamento e o meu jeito, são fruto do que eles me ensinaram. Cresci ouvindo The Fevers no toca discos e dançando como louca com a minha mãe. Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethania, Caetano Veloso, Milton Nascimento. Cresci aprendendo a respeitar e acima de tudo amar minha família. Tive os natais mais felizes que pude ter, e as férias de verão eram sempre inesquecíveis. Aprendi a dar valor pra todas oportunidades que surgiam e a impor minha presença quando fosse necessário. Aprendi que a educação é uma coisa que não se mede esforços ou dinheiro (meus pais que o digam!). Eu poderia escrever um livro com tudo que aprendi com eles.
2. Com 17 anos saí de casa. Cidade do interior nova, casa nova, colegas novos. Aí a gente aprende tanta coisa sozinho. Que manter uma casa é humanamente impossível (no meu caso), que cozinhar é um ritual muito complexo e que nuggets ou molho de tomate pronto são as melhores invenções do mundo. Aprende que ninguém se importa em te tirar da cama de manhã cedo pra ir pra aula ou insistir pra tu estudar. Tu aprende a ser adulto. E ser adulto é muito difícil. A gente tem que ir no super, limpar a casa, chamar o encanador, engolir o choro e conviver com a saudade. Encarar a faculdade e principalmente: que os amigos sempre te ajudam a segurar as pontas. Pelo menos no meu caso, se não fosse meus amigos, eu teria enlouquecido.
3. E voltando para todo o blá blá blá das ideologias que eu herdei dos meus pais, eu sou assim. Aprendi que liberdade é essencial para tudo. E tenho sorte de sempre ter toda liberdade do mundo para ser quem eu quiser. Para ser eu mesma. Pra escolher o meu futuro e pra experimentar tudo o que eu tive curiosidade. Pra me algumas vezes me arrepender e outras pra me orgulhar dessa porralouquice que marcou a minha era universitária. Pra ser sincera sempre! É claro, que eu sempre soube que deveria respeitar aqueles que pensam diferente de mim, e muitos deles são meus amigos. Cansei de ouvir coisas e descordar até o dedão do pé, mas sempre respeitando as opiniões. E por isso eu gosto que respeitem as minhas. Por isso gosto de compartilhar minhas histórias com meus amigos, contar sobre a a minha vida. Vez em quando escrevo coisas no final dos cadernos e sei que ninguém vai ler. E não é pra ler mesmo! Outras vezes gosto de ler coisas que parecem que foram escritas pra mim, naquele exato momento. Gosto de ouvir os conselhos que as pessoas tem, e gosto muito de ouvir suas histórias também. E gosto de desabafar, e como boa pisciana que sou, de vez em quando sacudir o mundo gritando meus anseios. E gosto quando sou respeitada por isso. Se alguém me compreender, melhor ainda :) E gosto dessa minha eterna liberdade, de fazer, de ler, de escrever e de ser o que eu quero. Quando quero. Pra ninguém me reprimir.
Boa semana pra mim, e pra alguma alma que resolver ler esse imenso desabafo. Termino o post com um pedaço de uma música do Raul que eu gosto muito, e que cabe muito bem neste momento: "Todo homem tem direito de pensar o que quiser, todo homem tem direito de amar a quem quiser, todo homem tem direito de viver como quiser, todo homem tem direito de morrer quando quiser."